O cancro é uma doença solitária, porque quando entramos neste mundo oncológico sem esperança de cura…. entramos num caminho solitário que amplia a nossa dor e o nosso sofrimento. Neste sentido, pode dizer-se que é uma doença de emoções e sentimentos.
Já toda a gente ouviu falar sobre o carrocel de emoções que sente um doente oncológico e é nesse carrocel que temos de atuar. E como? Não é, com toda a certeza, fechando-nos na nossa conchinha que vamos diminuir este problema, muito pelo contrário; é, pois, na abertura ao exterior, no desabafo dos nossos medos e das nossas ansiedades que podemos ancorar-nos para fugir ao turbilhão de emoções e sentimentos que nos desgasta a energia de uma forma completamente desnecessária.
Mas abrimos as nossas emoções e sentimentos a quem? Muitas vezes, com a melhor das intenções, as pessoas comuns mais não fazem do que aumentar a nossa angústia e, assim, contribuir para o nosso maior isolamento porque têm dificuldade em entender-nos ou porque elas próprias têm medo de abordar certos tabus e acabam por desvalorizar o que sentimos e acabamos por nos retrair e ficar pior que antes. Ora, para sermos devidamente compreendidos e entendidos temos de falar com as pessoas que estão a passar por problemas idênticos aos nossos, que conhecem a doença e as suas consequências, que estão a passar por sentimentos de perda como nós e que estão emotivamente tão desgastados como nós.
Então dir-se-ia… Mas como é que pessoas carregadas com tantas emoções e sentimentos negativos se podem entreajudar? Efetivamente, podem. O facto de encontrarmos pessoas que estão a passar pelos mesmos problemas, a sentir emoções idênticas e idêntica predestinação, faz com que automaticamente nos identifiquemos e nos sintamos mais fortes – um verdadeiro suporte emocional que nos permite ficar, de facto, mais aliviados, não porque isso tenha influência física na doença, mas porque pura e simplesmente deixámos de estar sós… Esse suporte de ter amigos com quem falar sobre a doença permite-nos recuperar grande parte da estabilidade emocional perdida com o diagnóstico, encarar a doença de uma forma muito mais racional, diminuir o medo e a ansiedade associados à doença incurável. Por outro lado, a troca de experiências e o conhecimento sobre os vários estádios dos outros permitem-nos situar-nos de uma forma mais realista. E, tudo somado, ajuda-nos definitivamente a aceitar a nossa própria doença e condição.
Francisco Rodrigues
Presidente AC RIM – Associação de Cancro do Rim de Portugal